Em 2011, um jornalista
alemão, Michael Hesemann, realizou uma série de entrevista com o irmão do então
Papa Bento XVI, Monsenhor Georg Ratzinger. Destas entrevistas surgiu um livro, Meu irmão, o Papa, que narra a
trajetória dos dois irmãos, com o foco na vida de Bento XVI. O livro pode ser
encontrado em livrarias católicas. Até há alguns meses, tinha exemplares dele
na loja da Canção Nova, no Centro (Rua do Rosário
No livro, o Monsenhor
Georg mostra como a vida de sua família era guiada pela oração, estando a
religiosidade bastante presente no dia-a-dia da família. Por exemplo, segundo
ele, “o nosso completo decurso do ano era definido pelas celebrações
religiosas” (RATZINGER, 2012, p. 44)*. Além disso, “a oração do Rosário era um
hábito quase diário em nossa família, e obrigatório aos sábados. Nós nos
ajoelhávamos no chão da cozinha, cada um com os braços apoiados em uma cadeira
à frente e um de nós, geralmente papai, recitava a oração” (p. 39).
Mas é bastante
significativo um testemunho feito pelo Monsenhor e um alerta que ele lança para
os pais e mães católicos:
“Quando ficamos um
pouco mais velhos, primeiro eu, depois o meu irmão, éramos coroinhas aos
domingos e às vezes durante a semana, enquanto a nossa mãe e a nossa irmã iam a
outra Missa. Em alguns domingos, chegávamos a assistir duas Missas, a primeira
como coroinhas e a outra com a família. Por exemplo, a Missa matinal, às 6
horas da manhã, ou o serviço paroquial às 8 horas ou 08:30 da manhã. Na parte
da tarde, às 2 horas, havia mais uma Missa, e nos feriados tinha as Vésperas.
Esta devoção vivida e
praticada determinou nossas vidas, embora eu hoje celebre apenas uma Missa
Sagrada por dia e renuncie a ir a uma segunda vez. Mas àquilo que recebemos de berço, nós permanecemos fiéis por toda a
vida.
Estou convencido de que
a ausência desta piedade tradicional em
muitas famílias é uma razão para a atual carência na nova geração de padres.
O que muita gente pratica é mais uma forma de ateísmo do que de Cristianismo.
Talvez até mantenham uma vaga religiosidade de alguma forma, por exemplo, indo
à Missa para as grandes celebrações. Mas esta fé rudimentar não permeia suas
existências, ela já não está inscrita em suas vidas cotidianas. Isso começa
pelas refeições, que eles fazem sem sequer pensar em alguma oração, e vai até o
ponto em que já não vão à igreja regularmente aos domingos. Assim é introduzido
um modo de vida quase pagão. Se a uma
vida religiosa não é praticada dentro da família, isso se refletirá por toda a
vida de uma pessoa. Eu converso frequentemente com meus irmãos padres; a
maioria viveu em famílias que oravam regularmente, e nas quais todos iam juntos
à Missa. Isso moldou suas vidas e orientou-os no caminho de Deus. Desta forma,
sua vocação foi semeada em solo fértil” (pgs. 42-43).
Estas palavras do
Monsenhor Georg são muito importantes. Mostram, em primeiro lugar, os belos
efeitos que há numa família que vive sua fé (união, partilha, boa educação dos
filhos e, não rara vezes, uma vocação religiosa). Uma família católica que
planta e cultiva a raiz da fé, terá filhos “enraizados e edificados em Cristo,
inabaláveis na fé” (cf. Col 2, 7). Mas, em contrapartida, quando uma família
não vive sua religiosidade, os filhos crescem sem perceber o verdadeiro sentido
da vida humana, que é buscar a Deus.
Que as famílias
católicas possam aprender com o exemplo da família Ratzinger!
ORAÇÃO
DA FAMÍLIA

Amém!” (Beato João
Paulo II).
*RATZINGER, Georg. Meu irmão, o Papa: da infância ao
pontificado: um tocante relato sobre a vida de Bento XVI/Georg Ratzinger;
depoimento a Michael Hesemann. São Paulo: Editora Europa, 2012.